Este ano desafiei-me a ser mais criativa e a tratar melhor o meu lado B. Custou a arrancar, mas acho que acabei por descobrir o lado B, C, D, E, F, G!
Em 2017 ano publiquei a intenção do meu desafio pessoal em março, mas a verdade é que já andava a pensar nele há bem mais tempo. Demorou a arrancar e demorou a implementar.
Penso que aprendi logo em março a lição mais importante do desafio: a criatividade precisa de ócio. Talvez se possa treinar a inspiração para reagir a determinadas horas, mas confesso que a maioria das pessoas com quem falei e das reportagens que vi no youtube sobre o assunto vão noutro sentido. A minha própria experiência vai neste sentido… E não obstante precisei de mais uns meses (senão o ano inteiro!) para interiorizar esta mesma ideia: o berço da criatividade é o ócio e a emoção. Repeti esta conclusão em abril, maio, e um pouco por todos os outros meses.
Ainda em março do ano passado (foi um grande mês!) decidi domar a minha “obsessão pelo trabalho” e parar de trabalhar pelas 18h. Foi um processo com avanços e recuos, porque eu vou tendo alturas com mais trabalho e alturas com um pouco menos de trabalho, mas acho que talvez seja esta a principal lição que as minhas enxaquecas me querem ensinar: há um limite para a quantidade de horas que um ser humano deve trabalhar para conseguir ser criativo e funcional. Ainda estou a apreender esta ideia, confesso – o meu ethos pessoal é um pouco diferente, mas enfim, acho que preciso de mudar de ethos. Também me fez pensar como trabalhar muitas horas não é necessariamente o mesmo que trabalhar muito ou trabalhar bem!
Em maio, decidi levar este desafio como se fosse um projeto, com relatórios semanais. Até que não correu mal em termos de produtividade… Mas a criatividade e a produtividade não são necessariamente grandes aliadas! Na semana 4 do mês de maio, fiz a mandala que tinha prometido à minha amiga Filipa e comecei a publicar fotos das, capas mais criativas do meu livro, mas em junho esta ideia de fazer relatórios semanais da criatividade “amainou”, talvez porque no fundo não estivesse tão comprometida com a criatividade “a tempo inteiro”. Ainda em junho apercebi-me que o vício da internet se estava novamente a apoderar de mim! Os vícios são coisas tramadas: uma pessoa acha que os dominou, mas se se distrai, aos poucos eles vão reconquistando o tempo perdido.
Em junho/julho, compreendi a importância da alegria e da diversão na criatividade. Eu sei, é óbvio, mas nem tudo o que é evidente está devidamente assimilado, ou não haveria necessidade de livros de autoajuda.
Em agosto/setembro comecei a estar mais ligada a mim e percebi que estava a limitar o meu entendimento daquilo que é a arte e de como é feita. Comecei a permitir-me fazer coisas diferentes em momentos não programados e as coisas começaram a fluir e finalmente em outubro encontrei um ótimo equilíbrio e desatei a criar coisas, e acabei por estragar esta boa onda em novembro e dezembro, com alguma sobredosagem de “tempo de ecrã” (o vício da internet a voltar lentamente!) e magnífica enxaqueca, que culminou numa crise de proporções que ainda não tinha experienciado em janeiro de 2018.
Assim, as principais aprendizagens deste ano para mim foram:
- A criatividade é difícil de definir e expressa-se dentro e fora da maneira tradicional de ver a “arte”. Pode haver criatividade nos gestos mais pequenos do dia a dia, não é preciso muito para se ser criativo/a, basta prestar atenção.
- A criatividade precisa de ócio e emoção para crescer. Ócio é tempo livre, ou pelo menos de flexibilidade de horário para “agarrar” a inspiração quando ela aparece. Emoção inclui a alegria, a tristeza, a raiva, o amor… etc. mas têm de ser emoções sentidas em primeira mão e não por interposta pessoa (embora se possam incluir as emoções sentidas por contágio emocional/empatia).
- A criatividade e o mindfulness são aliados incríveis. É fácil, neste mundo de acesso facilitado e encorajado a informação e imagens, distrairmo-nos de nós mesmos. É importante manter atenção ao que nos rodeia, estar “desconectad@” para poder estar verdadeiramente “ligad@” ao mundo.
- A criatividade é saber, sentir e fazer. Não adianta saber uma coisa sem a sentir, sentir uma coisa sem a fazer e todas as outras variações possíveis destes 3 elementos. Talvez estejamos mais desligados do “sentir” do que devíamos nos dias que correm, temos vindo a tornar-se sobretudo seres cerebrais e operacionais – eu acho que isto já está a mudar, mas penso que é bom cada vez mais celebrarmos a importância do “sentir”.