O Amor é o Amor
O amor é o amor — e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?…O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos — somos um? somos dois?
espírito e calor!O amor é o amor — e depois?Alexandre O’Neill, in ‘Abandono Vigiado’
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?…O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos — somos um? somos dois?
espírito e calor!O amor é o amor — e depois?Alexandre O’Neill, in ‘Abandono Vigiado’
Lembro-me exatamente quando foi a primeira vez que ouvi falar do Alexandre O’Neill: foi num programa do Mário Viegas na RTP2, provavelmente terá sido uma repetição de um programa. Também me lembro do poema que era o “Poema pouco original do medo” (fica prometido para a semana – deste vez tinha de ser algo relativo ao amor, que amanhã é o “dia dos namorados”). O que eu gosto neste poeta é da forma despretensiosa como transmite a sua mensagem que nem por isso deixa de ser profunda. “O amor é o amor – e depois?” é quase uma forma zen de ver a questão. O amor é o que é, para quê complicar? Para quê ficarem os dois “a imaginar, a imaginar”? O poeta está claramente mais interessado em passar à ação e consumar o amor, que visto desta forma descomplicada, não precisa de mais espaço que um leito, e rejeita “destino”, “medo” e “pudor”.
“O amor é o amor – e depois?”