Ao longo de 2014, e à medida que comecei a andar mais de transportes públicos e a de facto “viver mais a cidade”, tornou-se impossível não me apaixonar ainda mais pela Invicta, especialmente por aquilo que de melhor esta cidade tem: as suas pessoas. Fui publicando uma série chamada [viver no porto é] no Facebook, que compilei aqui e que agradece outros contributos. Vamos fazer de 2015 o ano em que #vivernoportoé um privilégio partilhado nas redes sociais?
[viver no Porto é] passar à noite por um casal de velhinhos de mão dada na Avenida da Boavista, e a senhora vai agasalhada com o seu cachecol do Futebol Clube do Porto, muito direitinho, com as letras do FCP para fora.
[viver no Porto é] uma senhora de idade muito aprumada e sorridente que pega em dois sacos no Pingo Doce e mete conversa comigo. às tantas, diz-me que não está nada mal para a idade que tem. Que idade? “96 anos” (isso mesmo, *noventa* e seis anos).
Não quis ajuda com os sacos “porque morava mesmo ali ao lado” (só lhe faltou acrescentar que também não era velha nenhuma, para eu me estar ali a armar em escuteira). Só tenho pena de não lhe ter tirado uma foto para vos mostrar.
[viver no Porto é] a senhora idosa de ar querido e matriarcal que lê a secção de “relax” do jornal de domingo no café – e de repente começa a barafustar muito indignada porque encontrou um anúncio para uma “casa de meninas” na sua rua.
“Palavra de honra… olha que putedo!…”, diz ela com os seus cabelos muito brancos e os seus óculos dourados.
[viver no Porto é] o senhor de idade que lê a revista de sábado e de repente se começa a rir muito e a abanar a cabeça, porque uma reportagem tem o título de “O envelhecimento é uma conquista”.
“Ai é uma conquista é, têm cada uma!… Como se uma pessoa tivesse outra hipótese!… Ó menina, já viu isto?” e continua a sua leitura de óculos na ponta do nariz.
[viver no Porto é] o senhor de idade dá um espirro muito alto e o Café responde em coro: “Saúde!”.
[viver no Porto é] ir ver como estão a correr as coisas com as obras e a pergunta ardente que o ajudante do picheleiro tem para me fazer é “a menina desculpe, mas a menina é benfiquista, não é?”. Digo que sim e pergunto o porquê da pergunta. “Não tem mal nenhum,” – responde como quem diz que é defeito, mas não é dos piores- “mas logo vi: a caixa das ferramentas é vermelha, o balde é vermelho, tem tanta coisa vermelha em casa que só podia ser benfiquista.”
[viver no Porto é] Vou comprar uma ficha da lavagem automática para o carro e pergunto: “a opção X tem pre-lavagem?” Ao que o funcionário me responde “tem sim menina, todas têm. Está lá fora o balde, a vassoura e a pistola, pode usar à vontade.”
[viver no Porto é] a velhinha do café trata-te por “môre” sem te conhecer de lado nenhum. (by Ricardo Mendes)